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O pulmão das urbes: como os espaços públicos ditam a vida nas cidades

“As cidades compõem-se fundamentalmente de pessoas, e aonde elas vão e onde elas se encontram são a essência do funcionamento de uma urbe. Ainda mais importantes do que os prédios são os espaços públicos que se encontram entre eles. E hoje, algumas das mudanças mais impactantes nas metrópoles estão acontecendo nestes locais”. A frase poderia ter sido dita sobre a São Paulo dos dias de hoje, especialmente depois de uma vitória pública importante para a população que vive na terra da garoa: no dia 10 de agosto, depois de anos de luta, o Ministério Público, a Prefeitura e as construtoras Cyrela e Setim tornaram o Parque Augusta um bem comum a todos.

Parque Augusta, em São Paulo – foto: divulgação CAU

Mas quem dita as aspas é Amanda Burden – ex-diretora do Departamento de Planejamento Urbano de Nova Iorque e presidente da Comissão de Planejamento Urbano ao longo do governo de Michel Bloomberg – durante uma conferência TED em 2014. À frente dos nossos tempos, a urbanista ficou reconhecida por desencadear uma importante revolução na Lower Manhattan e nos espaços públicos de Nova Iorque alguns anos atrás – além do contestado porém bem-sucedido e mundialmente reconhecido projeto do High Line, ela é responsável pelo rezoneamento de 124 bairros nova-iorquinos, algo que representava, em 2012, 40% da cidade, resultando no replanejamento de toda uma malha viária e tornando o metrô facilmente acessível para todos, sem contar com a priorização dos pedestres em vias que, como a Broadway, antes eram tomadas só por carros.

A luta ainda é árdua e ininterrupta: como bem lembra Amanda, “espaços públicos sempre precisam de defensores vigilantes, e não só para reivindicá-los, mas para projetá-los para as pessoas; e, depois, para mantê-los”. A defensora, além de levantar uma bandeira sem precedentes na história nova-iorquina, deixou ainda um legado para as gerações seguintes. Mais que simplesmente implantar locais abertos de permanência, ela ensinou que é preciso, antes de mais nada, entender como os cidadãos fazem uso deles.   

Por gerações, as praças públicas têm assumido um diálogo muito íntimo com as construções modernistas e contemporâneas que as cercam. São fontes férteis para o comércio e também para a economia das cidades: não há verde para regar e manter, não há vida e quase ninguém permanece, especialmente na calada da noite. Em sua maioria, acabam sendo inóspitas. Foi então que Amanda, ao conviver de perto com um pequeno fenômeno construído no centro de Manhattan, o Paley Park, captou a essência de um bom projeto de espaço comum. “Vi em primeira mão que eles exigiam uma dedicação incrível e uma atenção enorme aos detalhes. (…) Esse pequeno parque oferecia o que os nova-iorquinos ansiavam: conforto e vegetação.”

Paley Park – foto: Sampo Siklo, via Flickr

Mais tarde, enquanto líder de uma equipe de urbanistas que remodelaria um gigantesco aterro na cidade baixa de Manhattan (o Battery Park City), Amanda pôde botar em prática todo seu olhar sobre como implantar um espaço público de sucesso, priorizando não só a experiência final dos usuários, mas também usando o design a seu favor. “Insisti que fizéssemos uma maquete de madeira, em escala, da cerca e do muro de proteção, e quando me sentei naquele banco de ensaio, a grade ficou exatamente no nível dos meus olhos, bloqueando a minha visão e arruinando minha experiência à beira mar. O design não é apenas aparência, é também como o seu corpo se sente naquele lugar ou naquele espaço, e isso depende sempre de um feeling muito pessoal”, conta a urbanista.

Battery Park – foto: Regina Barbosa

Entre outros feitos, Amanda veio principalmente para contar que o ponto de partida para transformar um parque em um verdadeiro local de permanência é a parcela de humanidade que se coloca no trabalho. “Você se pergunta se gostaria de estar ali. Se há outras pessoas lá; se o local parece verdejante e agradável; se é possível enxergá-lo de fora pra dentro, e de dentro pra fora; e também se você pode encontrar algum lugar para permanecer.”

Assista à conferência na íntegra:

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